Pequenos negócios: falta o Administrador profissional
Este empenho organizado de produção é praticado por milhões de brasileiros que formam um universo empresarial poderoso. Entre 1985 e 2005, Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) contabilizou exatas 8.915.890 empresas formalmente instaladas no Brasil. Projetando este número para a atualidade, o resultado é muito superior: em 2012 foram registradas 538.685 novas empresas. A esse portentoso universo empresarial devem ser computados, até dezembro de 2013, mais 3.659.781 microempreendedores individuais (MEIs) – figura jurídica criada pela Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, para pessoas que trabalham por conta própria e que se legaliza como microempresário – segundo balanço da Previdência Social.
Para se avaliar melhor este universo é preciso saber que cerca de 99% desses negócios, enquadradas como micro e pequenas, são responsáveis por 20% do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$700 bilhões, além de gerar 56,4 milhões de empregos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O segmento tem crescido de forma consistente, demonstra vitalidade, grande capacidade de produção, flexibilidade para se adaptar ao mercado, rapidez na instalação e se adaptam rapidamente às circunstâncias. Mas revela algumas fragilidades — a principal delas, o padrão de gestão de negócio, que nem sempre segue uma linha profissional. E os pequenos pagam caro por isso, especialmente em setores mais competitivos, onde é comum assistirmos a grandes fracassos por falta de uma gestão adequada.
Ao planejar seu negócio o empreendedor muitas vezes incorre em erros primários –falta de planejamento, desconhecimento do mercado, subestimar o investimento inicial, não ter um foco definido, dificuldade em lidar com riscos, descontrole do fluxo de caixa, falta ou inadequada divulgação do negócio, superestimar o volume de vendas, escolher erroneamente sócios e parceiros – e quando fracassa, tende a colocar a responsabilidade na excessiva carga tributária do governo, burocracia do serviço público, inflação, saturação do mercado, concorrência, juros altos, sazonalidade, setor em estagnação ou retração. É claro que fatores externos ao negócio podem ser críticos, mas a principal causa de falência está relacionada muito mais à inadequada administração.
Estudo do IBGE divulgado em 2010 revela que de cada cem empresas abertas no Brasil, 76 encerram suas atividades em um ano de funcionamento, 61 em dois anos, e quase a metade (48) encerram suas atividades no terceiro ano de funcionamento. A maioria das empresas que abriram ou fecharam suas portas em um ano são de micro e pequeno portes. O estudo conclui que há “uma relação direta entre o porte das empresas e a taxa de sobrevivência”, ou seja, quanto menor o empreendimento maior a possibilidade de fracasso.
A função do Administrador torna-se mais decisiva diante das deficiências gerenciais e administrativas. É preciso sensibilizar o setor sobre a importância de uma administração profissional e uma das formas de se fazer isto, por exemplo, é criando assessorias que visem a grupos de pequenas empresas. Insistimos na tese de que apenas uma nova cultura empresarial neste seguimento será capaz de motivar o empreendedor a incluir em seu negócio, desde o início, a participação do profissional da Administração, contribuindo para uma vida longa e garantindo o sucesso do empreendimento. Ao agregar aptidões gerenciais específicas em sua formação, o Administrador é o diferencial necessário para incrementar o desempenho dos negócios de pequeno porte e contribuir de forma decisiva para a redução do índice de fracasso desses empreendimentos. E o mercado de trabalho neste segmento torna-se muito mais do que promissor.